Skip to main content
Presidente
Turismo de Portugal

Entrevista Luís Araújo - Turismo Portugal

Em 2022 a APEE - Associação Portuguesa de Ética Empresarial organiza a 1.ª edição da ESG WEEK, uma iniciativa que promove o debate dos grandes temas da Sustentabilidade, enquadrados no domínio ESG – Environmental, Social, Governance. 

No âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 das Nações Unidas e da transformação dos modelos de negócio tradicionais para a integração de temas ESG nos processos de tomada de decisão, reveste-se de especial importância uma iniciativa como esta, que envolve entidades cujo trabalho efetivo em matéria de Sustentabilidade é evidente.

O Turismo de Portugal associa-se à ESG WEEK 2022, coorganizando uma conferência intitulada “Transformar o Turismo através da Gestão ESG” no dia 19 de maio às 11h30.

Em entrevista, Luís Araújo, Presidente do Turismo Portugal, acredita que “É no contexto do nosso Programa Empresas Turismo 360°, no qual a APEE é parceira, que é importante garantirmos a associação a iniciativas e dinâmicas que possam constituir espaços de partilha de conhecimento e de debate sobre temas que, em face das tendências internacionais e das recomendações e desafios à escala global relacionados com a sustentabilidade e com a responsabilidade social, estão hoje no centro do debate empresarial. É por essa razão que o Turismo de Portugal se associa à ESG Week 2022, um evento que contribui para o desenvolvimento de políticas de financiamento sustentável e para a criação de um espaço de sensibilização para as temáticas, desafios e oportunidades relacionados com os temas das finanças sustentáveis e dos fatores ESG, concorrendo, nessa medida, para o fortalecimento das bases para o investimento sustentável e para a consequente mudança no atual modelo económico e financeiro.” 


APEE: Quais as razões que levam o Turismo de Portugal a associar-se à ESG WEEK 2022? 

LA: O ambiente económico alterou-se de forma muito significativa nos últimos anos, e as crescentes exigências ao nível da competitividade e da atuação ética das organizações geraram desafios globais, sem precedentes, para a gestão empresarial. Vemos que cada vez mais empresas, para conquistarem diferenciais competitivos, estão a alterar as suas estratégias de negócio e os seus referenciais de gestão para refletir, na sua atividade, as atuais realidades económicas, ambientais e sociais. Procurando minimizar os impactos da sua atividade e otimizar os efeitos positivos no planeta, nas pessoas e na economia, e também impelidas pelo crescente escrutínio dos consumidores, dos governos e do próprio sistema financeiro, as empresas estão a assumir compromissos com metas específicas de sustentabilidade, compreendendo a importância de desempenharem uma função social e ambiental, para garantirem um crescimento económico sustentável. 

Em face deste movimento crescente da sustentabilidade empresarial, o Turismo de Portugal assumiu a importância de dar o seu contributo para o processo de consciencialização e de sensibilização para os temas do desenvolvimento sustentável e da responsabilidade social da atividade turística, através do seu Programa Empresas Turismo 360°, uma iniciativa inovadora criada em novembro de 2021, com o objetivo de mobilizar as empresas do setor do turismo em torno da sustentabilidade ambiental, social e de governação. Reconhecendo que as empresas são a força motriz da resiliência e sustentabilidade futuras do setor, o modelo operacional do Programa Empresas Turismo 360° assenta na criação de uma linguagem comum em matéria de sustentabilidade no turismo, apelando para uma maior transparência, ética e responsabilidade das organizações, seja qual for a sua dimensão, por via da incorporação dos fatores ESG nas suas estratégias, instrumentos de gestão e operações. 

É no contexto do nosso Programa Empresas Turismo 360°, no qual a APEE é parceira, que é importante garantirmos a associação a iniciativas e dinâmicas que possam constituir espaços de partilha de conhecimento e de debate sobre temas que, em face das tendências internacionais e das recomendações e desafios à escala global relacionados com a sustentabilidade e com a responsabilidade social, estão hoje no centro do debate empresarial. É por essa razão que o Turismo de Portugal se associa à ESG Week 2022, um evento que contribui para o desenvolvimento de políticas de financiamento sustentável e para a criação de um espaço de sensibilização para as temáticas, desafios e oportunidades relacionados com os temas das finanças sustentáveis e dos fatores ESG, concorrendo, nessa medida, para o fortalecimento das bases para o investimento sustentável e para a consequente mudança no atual modelo económico e financeiro.

APEE: Quais as suas expectativas relativamente a esta iniciativa, nomeadamente do ponto de vista de reporting ESG? 

LA: O grande desafio que o Programa Empresas Turismo 360° lança à comunidade empresarial do setor é o de reportar o desempenho ESG. O Programa está a apoiar tecnicamente as empresas nesse processo e a acompanhá-las, de forma muito próxima, ao longo de toda a jornada, dando-lhes conhecimento e ferramentas que, no seu conjunto, permitem criar um padrão de monitorização e reporte, integrar, na estratégia corporativa, os fatores ESG que refletem os temas materiais da atividade, medir e analisar os dados apurados, e comunicar ao mercado as práticas ambientais, sociais e de governação que foram implementadas. O grande objetivo é que o reporte do desempenho ESG vá ao encontro dos interesses e expetativas dos diferentes stakeholders – colaboradores, acionistas, clientes, fornecedores e comunidade – através da emissão de relatórios de sustentabilidade com uma estrutura comum a todo o setor, para garantir uma maior clareza na comunicação da estratégia de sustentabilidade de cada empresa e uma acrescida transparência no processo de medição dos temas materiais.

O Turismo de Portugal pretende que as empresas compreendam que uma estratégia ESG, pelas vantagens competitivas que advêm da visão atual dos investidores e do mercado, pode transformar-se num ativo tangível a nível financeiro, e acreditamos que esta iniciativa, em face da importância dos domínios das Finanças Sustentáveis e dos fatores ESG enquanto temas centrais da agenda europeia, pode contribuir para a crescente perceção de que a gestão ESG é um imperativo estratégico que contribui para o sucesso de longo prazo dos negócios pelos resultados consistentes que comporta ao nível do desempenho económico e do retorno financeiro das empresas, ao mesmo tempo que assume um papel relevante na concretização dos objetivos associados ao Pacto Ecológico Europeu e dos compromissos internacionais da União Europeia em matéria de clima e sustentabilidade, nomeadamente no âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda2030 das Nações Unidas.

APEE: Portugal é considerado um dos destinos mais sustentáveis do mundo. A que é que se deve essa distinção, na perspetiva do Turismo de Portugal? Quais as áreas onde ainda há um trabalho maior a desenvolver?

Segundo o World Economic Forum, Portugal é o 12º destino mais competitivo a nível mundial. Esta distinção deve-se ao reconhecimento da importância económica do setor do turismo para o país (corresponde a 15,4% PIB, gerando 9,4% do emprego) e, consequentemente, do seu potencial para melhorar as condições de vida dos residentes. Mas reconhece também que Portugal tem procurado oferecer um turismo que responda às espectativas dos turistas, cada vez mais preocupados com a sustentabilidade, minimizando a pegada ecológica da atividade turística. 

São estas as premissas do Turismo de Portugal para delinear políticas e definir estratégias para o desenvolvimento do setor. Acreditamos que ao tornarmos o destino mais sustentável, estamos a torná-lo também mais competitivo. 

Das três vertentes da sustentabilidade – ambiental, social e económica, o maior desafio deste momento está na vertente social. É um tema que o Turismo de Portugal tem em cima da mesa, acerca do qual tem vindo a refletir e a construir conhecimento de forma a poder desenvolver iniciativas dedicadas que complementem os restantes projetos no âmbito da sustentabilidade. Aliás, no âmbito do Plano Turismo +Sustentável 20-23 existem já algumas iniciativas em curso nomeadamente sobre igualdade e o papel da mulher, entre outros.

APEE- Quais os principais objetivos do Plano Turismo + Sustentável 2020-2030?

Os principais objetivos do Plano Turismo +Sustentável 20-23 são (i) estruturar a nossa oferta turística para que seja cada vez mais sustentável, (ii) qualificar os agentes do setor, (iii) promover Portugal como um destino sustentável e (iv) monitorizar as métricas da sustentabilidade no setor. 

Estes objetivos serão atingidos através do desenvolvimento das 119 ações inscritas no Plano, sendo que há metas tangíveis para alcançar até 2023, como por exemplo: ter 75% de empreendimentos turísticos com sistemas de eficiência energética, hídrica e gestão de resíduos e que não utilizam Plásticos de Uso Único; atingir os 25.000 aderentes ao Selo Clean & Safe, com 30 000 profissionais formados na área da segurança sanitária e mais de 1 000 empreendimentos auditados; e, finalmente, atingirmos os 50 000 profissionais com formação nas áreas da sustentabilidade. 

Alcançando estas metas, concretizando as 119 iniciativas previstas, acreditamos que o nosso contributo é crucial para alavancar o crescimento sustentável do setor turístico.

APEE - Recentemente aderiram ao Global Sustainable Tourism Council, ao Pacto Português para os Plásticos e à Declaração de Glasgow para a Ação Climática no Turismo. Quais os principais compromissos do Turismo de Portugal neste âmbito?

LA- A parceria com o GSTC está relacionada sobretudo com um dos objetivos do Plano Turismo +Sustentável 20-23 - qualificar os agentes do setor. O Turismo de Portugal pretende que esta entidade - que estabelece princípios e critérios de turismo sustentável a nível mundial - possa dar um contributo muito significativo na capacitação e formação dos nossos agentes neste âmbito.

A adesão do Turismo de Portugal ao Pacto Português para os Plásticos (PPP) é um compromisso com as metas que o Pacto estabeleceu para 2025, e que subscrevemos totalmente: (i) definir, até 2020, uma listagem de plásticos de uso único considerados problemáticos ou desnecessários e definir medidas para a sua eliminação; (ii) garantir que 100% das embalagens de plástico são reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis; (iii) garantir que 70%, ou mais, das embalagens plásticas são efetivamente recicladas, através do aumento da recolha e da reciclagem; (iv) incorporar, em média, 30% de plástico reciclado nas novas embalagens de plástico; e (v) promover atividades de sensibilização e educação aos consumidores (atuais e futuros) para a utilização circular dos plásticos. 

O Turismo de Portugal participa ativamente em alguns dos Grupos de Trabalho do PPP e divulga através dos seus canais institucionais toda a informação útil para a promoção da eliminação e redução dos Plásticos de Utilização Única no setor do Turismo.

Finalmente, no âmbito de desenvolvimento de politicas favoráveis à sustentabilidade, o Turismo de Portugal aderiu à Declaração de Glasgow, cujos signatários assumem compromissos exigentes e ambiciosas metas, nomeadamente (i) reduzir para metade as emissões de GEE até 2030 e, a longo prazo, emissões zero antes de 2050; (ii) apresentar planos de ação climática nos 12 meses após a adesão (ou atualizar os planos já existentes); (iii) alinhar os planos já existentes com os objetivos da Declaração; (iv) relatar publicamente, numa base anual, os progressos da execução do plano e as ações a implementar ou já implementadas; (iv) alinhar os planos com os 5 passos da Declaração: medir; descarbonizar; regenerar, colaborar e financiar; (v) trabalhar num espírito de colaboração, partilhando boas práticas e soluções, e (vi) disseminando informação para encorajar os agentes tornarem-se signatários e dar o apoio necessário para atingir as metas o mais rapidamente possível.

APEE - O Turismo foi um dos principais setores afetado pela pandemia por Covid-19. Em 2022, que se considera um ano de retoma para as empresas, qual o plano de ação previsto pelo Turismo de Portugal em matéria de Sustentabilidade?

LA- As ações previstas pelo Turismo de Portugal são as constantes no Plano Turismo + Sustentável 20-23 bem como no plano “Reativar o Turismo Construir o Futuro”, lançado em maio de 2021 e com vigência ate 2027. Um plano de 6,1 mil milhões de Euro destacando-se do ponto de vista das empresas o apoio financeiro às empresas com o Programa Transformar e a Linha de Qualificação da Oferta para investimentos na sustentabilidade; a criação do Programa Empresas 360; a criação de linhas de apoio especificas, em parceria com Fundo Ambiental. Mais se destaca, a aposta na definição de requisitos de sustentabilidade para os empreendimentos turísticos, a mobilidade sustentável, a gestão eficiente da água, energia e resíduos e a eliminação do uso de plástico único, bem como o desenvolvimento e conclusão do conjunto de projetos inscritos no Plano Turismo +Sustentável 20-23, que incluem as três vertentes da sustentabilidade – económica, ambiental e social – e também as dimensões da capacitação dos agentes (programa Upgrade Turismo), a disponibilização de informação através da elaboração de diversos Guias Técnicos e, finalmente, uma estratégia de promoção internacional de Portugal como destino turístico sustentável.

APEE - Que mensagem final deixaria para os operadores turísticos em matéria de ESG? 

LA- O desempenho ESG já não é um “nice to have” e passou a ser um “must have”. Ele afeta as preferências dos clientes, condiciona a perceção do público quanto à imagem e reputação de uma empresa, e é já um fator de ponderação e de valorização utilizado pelo mercado financeiro no momento da tomada de decisão dos investimentos. É por isso que é fundamental que os operadores turísticos compreendam que, enquanto base de diferenciação no mercado e forma de aquisição de vantagens competitivas no atual clima de elevada concorrência e imprevisibilidade e de crescentes exigências regulatórias, reportar os indicadores ESG comporta mais oportunidades do que riscos e representa mais benefícios do que custos. É muito importante que este propósito de criação de valor a longo prazo esteja presente na cultura, na estratégia e nas operações de cada empresa do turismo, e é essa mensagem que estamos a passar através do Programa Empresas Turismo 360°, que pretendemos que seja um instrumento facilitador desta transição para um modelo de crescimento turístico mais sustentável, inteligente, responsável e capaz de gerar mais valor acrescentado.