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Entrevista Anabela Vaz Ribeiro - UN Global Compact Network Portugal

A APEE - Associação Portuguesa de Ética Empresarial promove a 2.ª edição da ESG WEEK, iniciativa que promove o debate dos grandes temas da Sustentabilidade, enquadrados nos domínios ESG – Environmental, Social, Governance. Decorre em formato presencial com transmissão  via streaming.

Este encontro consiste numa oportunidade para se discutir os desafios atuais, o ambicioso e abrangente pacote de medidas adotado pela Comissão Europeia, nomeadamente a Taxonomia Europeia, a Corporate Sustainability Reporting Directive (CSRD) e atos delegados modificativos, respeitantes aos deveres fiduciários, que se destinam a melhorar o fluxo de fundos para atividades sustentáveis em toda a União Europeia.

A UN Global Compact Network Portugal associa-se à iniciativa enquanto Parceiro Estratégico. Em entrevista, Anabela Vaz Ribeiro, Executive Director da UN Global Compact Network Portugal, refere que Para a edição deste ano as prioridades são a Governance com o relançamento da Plataforma Portuguesa para a Integridade, que neste momento visa apoiar as empresas na adaptação dos seus instrumentos relacionados com a ética e a integridade à luz da nova Estratégia Nacional Anticorrupção, mas também “ESG para PME” porque nos parece que as pequenas e médias empresas estão neste momento muito pressionadas com diversas temáticas e esta é mais uma delas.”

O United Nations Global Compact é uma iniciativa especial do Secretário-Geral das Nações Unidas dedicada à sustentabilidade, que teve a sua origem numa proposta do Secretário-Geral da ONU Kofi Annan, em 2000. Criada a partir de uma resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas, assenta em Dez Princípios fundamentais nas áreas de direitos humanos, práticas laborais, proteção ambiental e anticorrupção e visa a integração dos mesmos ao nível da estratégia e operações das empresas. Assistiu-se em 2023 a uma mudança na forma como as empresas participantes reportam anualmente o seu desempenho. Considera que a iniciativa está a caminhar para se afirmar como um Standard ou um referencial mundial?

Transformar o mundo rumo ao desenvolvimento sustentável é um processo complexo, que tem de ser realizado em larga escala e com ampla participação. São precisos muitos referenciais, instrumentos e iniciativas para liderar a mudança, e as Nações Unidas são um líder natural. Os Dez Princípios do UN Global Compact são um standard de unificação do setor privado em torno de um referencial ético comum. Essa era a visão do Koffi Annan quando propôs este Pacto entre as Nações Unidas e as empresas. A aplicação de uma avaliação inicial de integridade prévia à aceitação da empresa e a obrigatoriedade de relatar sobre os temas em que a organização cria impacto, constituem drivers essenciais à ação. As empresas monitorizam o que fazem e trabalham para melhorar o impacto das suas atividades. O facto de a informação ser pública é outro pilar importante neste processo de transformação.

As empresas querem liderar, pelo exemplo, no seu setor de atividade, querem inovar e diferenciar-se. A sustentabilidade é uma nova forma de competitividade e o UN Global Compact está a tornar-se um standard incontornável. Os grandes players internacionais premeiam as empresas participantes do UN Global Compact porque a iniciativa dispõe de mecanismos de avaliação de integridade e de desempenho contínuo sobre a atividade das empresas. São exemplos os índices globais de sustentabilidade, as bolsas de valores, o Ecovadis.

 Os programas aceleradores têm sido muito elogiados por quem neles tem participado. Que novidades pode elencar para 2023?

 Os Aceleradores são uma imagem de marca do UN Global Compact. Visam apoiar as empresas na sua ação relativamente aos temas mais emergentes da sustentabilidade. Este ano, lançamos o Business & Human Rights porque as questões da violação dos direitos humanos nas cadeias de abastecimento globais é uma questão prioritária para as empresas e para a humanidade e potencialmente uma das mais difíceis de abordar. O UN Global Compact estabelece parcerias com entidades globais, especializadas, que conhecem bem o contexto internacional, os players, os problemas e as soluções. Esse é o mérito dos programas. Estruturar esta informação e organizá-la de forma pronta a usar pelas empresas.

Pretendemos neste caso concreto ajudar a mapear as cadeias de abastecimento, identificar os “hot topics” saber como priorizar os temas e que medidas aplicar. As empresas estão muito empenhadas no tratamento destas questões, mas não conseguem por vezes estabelecer uma metodologia que lhes permita abordar as questões mais prioritárias ou até saber se estão a priorizar da forma certa.

Estão a ser desenvolvidos programas aceleradores adicionais nas áreas da governação organizacional e da biodiversidade, temas que integram também a agenda das empresas.

Da nova proposta de valor para as organizações participantes encontram-se, entre outros, os Peer Learning Groups. Quais são os temas prioritários que estão a desenvolver nestes grupos de trabalho e de que forma é que podem apoiar aas organizações nesta caminhada rumo à sustentabilidade?

Os Peer Learning Groups (PLG) nascem da consciência de que numa rede global existem muitas empresas que já abordaram muitas questões e conhecem soluções para muitos problemas. Porque não colocar esse conhecimento à disposição das empresas menos experientes? É esse o racional. Para Portugal resolvemos abordar por agora implementar alguns dos grupos como sejam o PLG PME cuja missão é apoiar as empresas de menor dimensão no início da sua jornada de sustentabilidade, o PLG Direitos Humanos onde estamos a apoiar as empresas no mapeamento das suas cadeias de abastecimento e na identificação das questões prioritárias, bem como o seu tratamento e o PLG do Clima, dedicado à neutralidade carbónica e às metas alinhadas com a ciência.

Uma menção especial à Fidelidade por nos apoiar na implementação do PLG PME e estabelecer esta parceria connosco. O objetivo é integrar empresas que façam parte das suas cadeias de abastecimento e ajudá-las no processo de transição. É uma forma de apoiar as PME. Estamos abertos a outras parcerias com objetivos semelhantes.

Convidamos todas as empresas a participar, mas compreendemos que a maioria não se sente ainda confortável em partilhar o que faz. Mais por insegurança do que por não estarem a utilizar as abordagens certas. Vamos ajudá-las nesta partilha, construindo guias práticos que lhes proporcionem confiança nas suas abordagens.

 A UN Global Compact Network Portugal é uma parceira estratégica da ESG WEEK. Na edição de 2023 que objetivos pretendem alcançar?

A Associação Portuguesa de Ética Empresarial tem um histórico de criar eventos emblemáticos que chegam a muitas empresas e profissionais especializados nestes domínios. A temática do ESG é fundamental para as empresas e um tópico ainda em profundo desenvolvimento, por isso nos parece tão importante manter uma presença na ESG WEEK e convidar os nossos participantes a estarem connosco.

Para a edição deste ano as prioridades são a Governance com o relançamento da Plataforma Portuguesa para a Integridade, que neste momento visa apoiar as empresas na adaptação dos seus instrumentos relacionados com a ética e a integridade à luz da nova Estratégia Nacional Anticorrupção, mas também “ESG para PME” porque nos parece que as pequenas e médias empresas estão neste momento muito pressionadas com diversas temáticas e esta é mais uma delas. Multiplicam-se as exigências e os requisitos sobre as PME, mas nem sempre as ferramentas e os instrumentos para as apoiar. A sessão pretende contribuir para colmatar esse gap, criar literacia sobre ESG e proporcionar o acesso a instrumentos descomplicadores sobre ESG.

Nesta edição de 2023, uma das sessões aborda a “Integridade” e o relançamento da PPI - Plataforma Portuguesa para a Integridade, compromisso este constituído em 2019, que apela a que o setor privado e o governo promovam medidas anticorrupção e implementem políticas que estabeleçam sistemas de boa governação. Que importância constitui para as organizações portuguesas a subscrição deste compromisso?

O “G” do ESG parece muitas vezes o parente pobre. O mais difícil de abordar, o mais complexo, porque toca nos modelos de governação das empresas e implica assumir compromissos de gestão. O relançamento da PPI - Plataforma Portuguesa para a Integridade está sobretudo relacionado com a nova Estratégia Nacional Anticorrupção e as suas implicações para as empresas, mas constitui também um instrumento ESG na medida em que as empresas corporizam um compromisso com a integridade, apelando aos governos que façam o seu papel.

Na sua opinião em que ponto é que se encontram atualmente as PME no que concerne ao tema ESG?

As PME abrangem muitas empresas, de diversas dimensões e graus de complexidade, mas todas elas com necessidades de financiamento. Para algumas o tema é mais familiar pois as exigências dos clientes globais obrigam a maior diligência sobre temas emergentes.

Para as de menor dimensão e sobretudo com menos recursos, o léxico ESG não ajuda e confunde as empresas, substituindo o termo sustentabilidade, quando na realidade não devia. ESG é um Framework de reporting e essa mensagem não é clara, mesmo da parte de muitos players do mercado. Consideramos que as PME precisam de apoio e conhecimento sobre esta matéria. De referir que mesmo internacionalmente não estão estabilizados referenciais ESG comummente aceites, o que não ajuda porque não há “estrela do norte”.